Jair.
E agora, Jair?
A grana acabou,
o banco fechou,
o povo morreu,
a noite chegou,
e agora, Jair?
e agora, você?
você que é sem classe,
que zomba dos outros,
você que faz troça,
que odeia protesto
e agora, Jair?
Está sem razão,
está sem discurso,
está sem sucesso,
já pode beber,
já pode fumar,
sorrir já não pode,
a noite chegou,
o um não veio,
o dois não foi,
o três já vai,
não ao seu sonho
e tudo acabou
e tudo mentiu,
e tudo mofou,
e agora, Jair?
E agora, Jair?
Sua triste palavra,
seu instante de febre,
sua tosse, gripinha,
sua ignorância,
sua pouca cultura,
seu terno puído,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave do cofre
quis abrir a porta,
não existe porta;
quer mandar no país,
inventa inimigos;
quer ser ditador,
Mas não há mais o que ditar.
Jair, e agora?
Se você gritasse,
se você implorasse,
se você mudasse
o que diz a oms,
se você dormisse,
se você trocasse,
se você cansasse...
Mas você não muda,
você é burro, Jair!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do golpe,
você marcha, Jair!
Jair, embora.
Desculpe Drummond.