Bozo S/A e a Pergunta de Um Milhão de Dólares
O mercado, os analistas políticos e a torcida do Flamengo começaram a se perguntar a sério: já é hora de se apostar em um impeachment? A pergunta é importante e refletir sobre a resposta mais ainda.
Cada cidadão brasileiro é um acionista minoritário da Bozo S/A, essa empresa cujo IPO de um ano e meio atrás prometia milhões em dividendos e juros sobre capital próprio, mas que hoje está em queda livre, especialmente pela extraordinária aptidão de seu CEO em privilegiar a concorrência.
A especulação é inevitável: já não seria então o momento de se desfazer desse papel e investir no seu substituto, aquele verde-oliva enferrujado que não promete grandes ganhos, mas certamente nos trará alguma estabilidade?
O risco de se apostar num impeachment nesse momento é o mesmo da venda de qualquer outra ação em bolsa que esteja lhe dando prejuízo: tudo depende de se fazer o movimento certo no momento certo. A chance de você perder o timing e o papel derreter de vez é igualmente proporcional e catastrófica à chance de você vender e o papel disparar no dia seguinte.
De um lado, o aparelhamento da Polícia Federal e de outros órgãos estratégicos está ocorrendo a olhos vistos. O loteamento de cargos e estatais aos membros do centrão, idem. Assim, é bem possível que, se deixarmos o barco correr um pouco mais, a coisa degringole de vez e seja tarde. Nesse caso, instituições e democracia poderão vir a passar por um processo realmente preocupante e a falência de nosso Estado Democrático de Direito poderá vir a ser um risco real.
De outro lado, é muito importante definirmos o que compreendemos por democracia. Sobreviveremos à terceira queda entre os cinco mandatários eleitos na Nova República? O que pretendemos dessa empresa que troca de presidente como troca de técnico de futebol? Sob esse ponto de vista, o impeachment pode ser um tiro que saia pela culatra e a democracia seja ferida, igualmente, de morte. Forças ocultas e oportunistas de plantão encontrarão nessa circunstância o cenário perfeito para tomar as rédeas dessa companhiazinha pé de chulé e estaremos entregues da mesma forma.
Desfazer-se ou não dos papéis da Bozo S/A é uma manobra extremamente arriscada e, em ambas as circunstâncias, o risco de dar errado e retornarmos às trevas do totalitarismo é grande.
E, se isso acontecer, na melhor das hipóteses demoraremos décadas para reconquistar a confiança de qualquer investidor que se preze e assim retornarmos aos patamares mínimos civilizatórios que tínhamos alcançado em um passado recente. Já no cenário mais provável, caminharemos diretamente rumo à bancarrota.