E agora, Joseclayson?
E agora, Joseclayson? A água secou, a luz apagou, a conta subiu, o vírus surgiu, a barragem estourou, a passeata dispersou, e agora, Joseclayson?
E agora, você? Você que tem nome americanizado, que é motivo de chacota, você que posta, tira selfie, compartilha, se expõe, e agora, Joseclayson?
Está sem mulher, está sem emprego, está sem partido, já não pode beber e dirigir, já não pode fumar no trabalho, não pode sair de carro em dia de rodízio, cinema já não pode, o ingresso aumentou, o metrô não veio, o ônibus não veio, o bonde sumiu, o flanelinha surgiu, a bala se perdeu e tudo acabou, tudo se avacalhou e tudo se roubou. E agora, Joseclayson?
E agora, Joseclayson? Sua palavra ressentida, seu isolamento social, seu jejum eterno, a biblioteca pública só na promessa, sua esperança na loteria, seu único terno, sua incoerência, seu ódio de classe – e agora?
Com o GPS ligado, você quer achar a saída, não existe saída; quer morrer no mar, mas mataram o mar; quer ir para Minas, Minas se mudou para os States, volta sei lá quando; se bobear, nem Brasil há mais, Joseclayson, e agora?
Se você gritasse, se você traficasse, se você aceitasse o dinheiro vivo na maleta, se jogasse pedra na vidraça, se chorasse do gás lacrimogêneo, se tocasse um brega sertanejo, se você desistisse, mas você não desiste, você é forte, Joseclayson (pelo menos até o próximo surto de dengue)!
Abandonado qual bicho-do-mato, sem utopia, sem parede nua para pichar, sem educação saúde moradia segurança saneamento futebol respeito orgulho, sem aeroporto para fugir, trem para pegar, você marcha na ciclofaixa.
Joseclayson, para onde?