Infância
Atualizado: 13 de Out de 2020
Neste Dia das Crianças substitua os tradicionais presentes e os brigadeiros por uma reflexão.
Como se estivéssemos no Dia do Índio ou no Dia da Árvore diante dos últimos remanescentes dos Warazúkwe à sombra do último pé de jequitibá, olhemos as crianças como o que também são: seres em extinção.
O problema é a internet, território muito mais complicado de se demarcar do que as reservas florestais, ao qual elas se lançam com a cupidez e a irresponsabilidade de madeireiros e garimpeiros.
Há muito deixaram de usar azul (meninos) e rosa (meninas), o troca-troca de precoces nudes é o marco da iniciação sexual. Ao invés das revistas pornôs inspiram-se em sites idem.
No plano alimentar, o delivery lhes abastece com toneladas de burguers artesanais e dúzias de kinder ovo. A fase veggie não dura uma entressafra de alface crespa.
Se o ensino presencial já não as motivava, as aulas virtuais se encarregaram de expulsá-las da classe.
Para que ir a pracinha, ao parque ou mesmo descer para o play se, da escrivaninha ou do sofá, os miúdos jogam futebol, pilotam fórmula um, caçam zumbis, vestem Barbies e, lógico, fazem bullying com os amiguinhos mais distantes?
A infância não está no Mickey. Está no mouse. Não há caixa de brinquedos, bicicletas, bichinhos de pelúcia.
Há uma tela, um teclado e fones de ouvido. Interações ensimesmadas, pixels, a bunda achatada pela banda larga.
No lugar da educação familiar, o adestramento por algoritmos.
A infância micou. É um mico leão dourado solitário, arregalado e enjaulado.