Mascarinha Vermelha.
Atualizado: 19 de Mai de 2020
Era uma vez, no mundo do faz de conta, uma menina conhecida como Chapeuzinho Vermelho.
Chapeuzinho Vermelho era muito família e obediente. Já estava em isolamento há mais de 60 dias e não saia por nada.
A menina adorava sua vovó, com quem fazia lives todos os dias no final da tarde para ver como a velhinha estava.
Um dia, sua mãe disse:
– Chapeuzinho, fiz um bolo de cerejas para você levar para sua vovozinha.
– Que bom mamãe! Ela vai adorar, porque está muito sozinha. Como ela é grupo de risco, ninguém vai visitá-la!
– Muito bem. Então pega sua mascarinha vermelha e vai. Mas não vai nem de metrô, ônibus ou trem, porque tem muita gente contaminada. E não corta caminho pela floresta por que dizem que o lobo mau está com covid!
– Ah, mamãe, que bobagem! Lobos não pegam coronavírus, o presidente garantiu.
– Filha, é melhor não arriscar, né? Vi no Datena que os três porquinhos estão na UTI.
– Tá bom, mamãe, eu vou pela estrada.
Chapeuzinho colocou o álcool gel na bolsa, vestiu sua mascarinha vermelha e saiu.
As ruas estavam vazias.
Só carruagens de placa impar circulavam e mesmo assim, poucas.
Chapeuzinho pensou ir pela estrada porque o caminho era mais longo e ela precisava fazer um pouco de exercício.
Desde que o isolamento começou ela já tinha engordado mais de três quilos comendo a torta de frango com catupiry que a mãe fazia quase todos os dias.
Mas como sempre foi muito sedentária e não saia do computador, Chapeuzinho acabou cedendo à preguiça. Decidiu desobedecer a mãe e cortar caminho pela floresta.
No caminho foi cantando uma musiquinha.
“Pela estrada afora eu vou tão sozinha, furando a quarentena pra ver a vovozinha…”
A música acabou chamando a atenção do lobo, que como o ministro da saúde havia informado, estava mesmo com o coronavírus.
O bicho saltou diante da menina, disfarçado de vendedora de maçãs, fantasia que havia roubado da bruxa da Branca de Neve, que morreu e não tiveram nem onde enterrar, porque não havia mais coveiros.
– Olá, Chapeuzinho Vermelho!
– Olá, vendedora de maçãs. A senhora não sabe que é obrigatório usar máscaras?
O lobo disfarçou e perguntou:
– Eu sei. Mas o vírus não pega em lob… digo… em vendedoras de maça. Mas onde você está indo com tanta pressa, minha querida?
– Na casa da vovozinha, levar essa torta de cerejas, porque ela não pode sair de casa e não sabe usar aplicativos de entrega.
– Ah! Muito bem! Você quer uma maçã?
– Não posso. Muito obrigado, mas estou de regime.
O lobo pensou em comer a Chapeuzinho ali mesmo, mas decidiu que os gritos chamariam muita atenção. Seria mais discreto correr até a casa da vovozinha e papar as duas ao invés de uma só.
– Muito bem Chapeuzinho. Então vá com cuidado, porque tem muitos lobos no caminho.
E assim foi.
Chapeuzinho continuou seu caminho cantando.
Enquanto isso, o lobo que conhecia bem os caminhos da floresta, porque tinha sido motorista de Uber, chegou muito mais rápido e comeu a pobre vovozinha, que abriu a porta achando que era o zelador entregando o condomínio.
Quando Chapeuzinho chegou, estranhou a cena que viu.
– Nossa vovozinha! A senhora está toda peluda!
– Ah minha neta… é que a depiladora não vem em casa na quarentena.
– E porque esses dentes tão grandes??
Pronto.
O lobo comeu a Chapeuzinho.
Quando o SAMU chegou, três dias depois, encontrou o lobo com muita falta de ar.
Morreu na ambulância.
Os médicos acharam que era covid, mas como não fizeram o exame, no atestado de óbito colocaram que o bicho morreu de indigestão e pronto.