O segredo das estrelas
- Dalva, está vendo aquela estrela ali?
- Onde?
- Bem na ponta do meu dedo, ó.
- Qual, a que faísca?
- Não, mais pra esquerda. Do lado daquela meio alaranjada.
- Sei.
Ela se encosta nele para ver melhor, e a quentura compensa a noite fria.
- Então. Aquela coisica de nada é quinhentas vezes maior que o Sol.
- Sério?
- E aquela nuvem branca, que corta o céu quase de ponta a ponta?
- Eu estava mesmo estranhando: uma noite tão limpa, estrelada, de onde ela saiu?
- Não é nuvem, Dalva. É a Via Láctea. São bilhões e bilhões de estrelas, tantas e tão distantes, que juntas parecem uma nuvem.
- Nossa.
- Agora, o melhor: nosso Sistema Solar faz parte da Via Láctea.
- Como assim?
- A Terra, a Lua, o Sol, os planetas à nossa volta, tudo está contido na Via Láctea, aquela galáxia que parece estar no fim do mundo.
- Ah, vá.
- Pra você ver a grandeza. E já, já, naquele horizonte, vai nascer a lua, e a claridade dela vai apagar a maioria das estrelas que a gente vê.
- Bem que podia demorar mais um pouco.
Ele aproveita o escuro para enfiar o dedo no nariz e fazer uma limpeza básica.
- E aquela coisa cruzando o céu, piscando?
- Estou vendo. Uau. O que é aquilo?
- É só um avião, Dalva – seu riso quebra a quieteza da noite.
- Ah...
- Agora imagine que, no foguete mais rápido já inventado pelo homem, uma viagem (só de ida) até a estrela mais próxima do Sol levaria uns 200 anos.
- Sabe que essas coisas me deixam meio tonta?
- Doido é pensar que aquela ali pode ter explodido há dois mil anos, mas a luz que ela ainda emitia só está chegando aos nossos olhos agora. E aquele triângulo ali, quase se pondo? São as Plêiades. Outra galáxia longe pra burro.
- Você sabe muita coisa.
Os dois ficam em silêncio, deitados na areia. De vez em quando, um morcego e seu estranho barulho que lembra o do rato.
- Benhê.
- Oi?
- Eu também preciso te contar umas coisas.
- Diga.
- Já fiquei com o Luizão, com aquele seu amigo engenheiro não muito chegado num banho, e com o fortão da lanchonete que nem sei o nome. Aquele de bigode.
- Você não está me ouvindo, Dalva. “Plêiades” vem da mitologia grega. Eram 7 irmãs: Asterope, Merope, Electra, Maia, Taygeta, Celaeno e Alcyone, que, segundo os antigos – Alá! Eu vi, eu vi: uma estrela cadente!