Poesias, frases e devaneios.
(2006)
a gaveta do criado-mudo é perigosa
esconde o esquecido
abriga todo o rejeito do dia
tranca seus pecados
abra com cuidado
nao há vontade
nao à vontade
nao estou à vontade
vontade
vai tarde
tem sol por trás dos prédios
está me espiando através das janelas
escondido ainda, acha que ninguém o vê
mas não me engana
passei a noite inteira vigiando
sei que é ele quem está chegando
o corpo é longo com o tempo flácido o corpo é um saco de ossos com o tempo gordo o corpo é onde moram os pensamentos que escapam
o corpo não alcança
o corpo se lança mas os pensamentos são mais rápidos o corpo se cansa adeus é um estilete de lâmina afiada.
fresca, brilhante, cirúrgica.
cada vez que é pronunciado
retalha meus braços com cortes finos
quase invisíveis, de onde brota sangue, dor e saudade.
solidão se sente no estômago
tristeza no peito
saudade na base da nuca
mas amor é transparente
amor só se sente falta
o coração bate
e pausa
e bate
e pausa
cada batida é um sonho
cada pausa uma derrota
cada batida uma conquista
cada pausa uma decepção
para cada pulso de vida
tem um pulso de morte
ouço passos no quintal
deve ser a chuva que chegou mais cedo
gotas de orvalho sobre a planta carnívora
só lidar com a solidão
nada do que se diga será compreendido em palavras
quando o ontem acaba e o hoje começa, existe uma eternidade.
meus sonhos são mais impossíveis que os seus.