Porteiro.
Há quase 10 anos eu moro em casa.
Antes disso, morei muito tempo em apartamento e, dessa época, sinto falta de uma coisa.
Não, não é elevador.
Nem de reunião de condomínio.
Porteiro.
Sinto falta do porteiro.
Pra mim, o porteiro é um guardião do templo do universo.
Sempre me dei bem com eles e a recíproca parecia verdadeira.
Tenho bons momentos com esses caras.
Bons papos, boas histórias de vida.
Por exemplo, um deles era muito curioso.
Me interfonava dizendo que a pizza havia chegado e acrescentava “ô seu Hermes, chegou aqui uma meia calabresa, meia portuguesa”.
Óbvio que o xereta abria as embalagens e, se bobeasse, arrancava uma azeitona enquanto eu descia pelo elevador para pegá-la.
Em outro episódio, eu estava em viagem e mandei um cartão postal (coisas que não existem mais) para minhas enteadas.
Antes de entregar o cartão para elas, ele já antecipava o que estava escrito. O famoso spoiler de cartão postal.
Esse mesmo porteiro, quando cheguei da viagem, comentava “quer dizer que Roma é bonito mesmo? E o Coliseu, que espetáculo, hein, seu Hermes?
A intimidade é uma merda, mas com porteiro eu não ligo.
Pepeu, por exemplo, foi porteiro do meu prédio por muitos anos, e com ele fiz grande e profunda amizade.
Hoje, ele não é mais porteiro, é um empreendedor.
Estudou, se formou e tem a maior academia fitness da Paraisópolis. Fruto de boas conversas nossas na portaria.
Esse texto eu dedico ao Pepeu que abriu outras portas e venceu.